sábado, 28 de fevereiro de 2009

Esta chavezinha é a chave do quarto que fica no extremo do corredor do porão...




Do fundo o que sai? E como se chega no fundo?

Um dos elementos que nos interessa neste projeto, é descobrir possibilidades que o corpo e a voz podem encontrar para provocar-atingir-despertar-evocar: em nós, para nosso trabalho de atores; para o público, em seu trabalho de envolvimento.

Artaud é uma influência. Escreveu, em seu livro O teatro e seus duplos, muitas provocações neste sentido.


Não está provado, de modo algum, que a linguagem das palavras é a melhor possível.
E parece que na cena, que é antes de mais nada um espaço a ser ocupado e
um lugar onde alguma coisa acontece,
a linguagem das palavras deva dar lugar à linguagem por signos,
cujo aspecto objetivo é o que mais nos atinge de imediato.
(Artaud, 1993, p. 105)

O som tem uma capacidade de penetração que atinge o corpo de uma maneira diferente. O pé pulsa, a cabeça embala, a melodia nos acalma, a trilha sonora do filme nos deixa tensos.
O que se quer do teatro?
Onde se quer chegar NO ou COM o espectador?
A suas idéias, a sua mente?
A seu coração?
A sua alma?
A seu corpo?
Quais os caminhos a utilizar para chegar ao destino pretendido?
O discurso é uma opção.
O diálogo, outro.
A imagem é caminho também.
O ritmo, a tonalidade, a melodia, a harmonia, a dissonância, outros.
O cheiro também é.
E o calor do corpo.
E a distância.
A proximidade.
A presença e a ausência.
O que se quer do teatro?


Importa é que, através de meios seguros,
a sensibilidade seja colocada num estado de percepção mais aprofundada,
é esse o objetivo da magia e dos ritos,
dos quais o teatro é apenas um reflexo.
(Artaud, 1993, p. 87)

Levi soma legal com este projeto. Sua formação musical, somada a um ouvido natural e a sua personalidade, fazem uma mistura rica e fundamental para este projeto e às pesquisas que já se iniciaram pela companhia-eu em experiências anteriores. Aliás, antes de O OVO, trabalhamos juntos num outro processo, no qual pela primeira vez comecei a testar algumas curiosidades. A mulher com hemorragia que por fim não foi realizado, mas que serviu de campo de encontro e gestação.

(Já que mencionei Artaud, é bom lembrar apenas que A.A. (Antonin Artaud) é tomado muitas vezes de forma bastante pobre e estereotipada. A.A. é sim uma influência, mas não uma receita barata.)

Este vídeozinho é de um joguinho que fizemos ontem. é um deses lances vocais que testamos.



quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Os répteis nos interessam



Quando apresentei a idéia de Barba-Azul a Cleber e Lúcia, nos encontramos no Jocker. Música boa, cerveja. O Cleber de lambuja levou a Giovana, atriz e psicóloga. Quando comecei a falar sobre o que imaginava para nossa montagem, Giovana logo gritou: "Isso tudo é muito reptiliano!".

Reptiliano? Que diabos é isto?

Foi daí que apareceu um elemento importantíssimo do trabalho. Descobrir o que de réptil existe em nós, atores, "gente humana" e o que os dois contos, ficção, contém de reptiliano. Se no espetáculo O OVO, o ovo serviu como um elemento simbólico de grande influência para o trabalhao como um todo, desta vez entram em pauta os répteis, e o que eles nos permitem associar ao espetáculo.

No bar Giovana comentou alguns elementos interessantes sobre o lado réptil do ser humano. Quando retomamos os trabalhos, agora com o grupo completo, com Levi e Fernanda, olhamos com mais atenção ao tema. Biologia, história, anatomia, hábitos, psiquismo e estrutura cerebral entraram na pauta, na imaginação, no corpo, na voz.

Réptil. Reptil. Reptilia. Repetí-la.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

antes da barba, o ovo

Espetáculo O OVO, 2006
Este espetáculo é o segundo trabalho da Companhia do Teatro Submerso. O primeiro foi o espetáculo O OVO, de Ismael Scheffler, apresentado no Festival de Teatro de Curitiba em 2006 e nos dias 29 e 30 de junho e 1 e 2 de julho, no Miniauditório do Teatro Guaíra [Direção e Cenografia: Ismael Scheffler; Elenco: Patrícia Goulart e Mari Romero; Figuro: Márcia Helena dos Anjos; Maquiagem: Lilian Marchiori; Sonoplastia: Márcio Steuernagel; Iluminação: Katiuscia Brufatto.

Da primeira formação, restou apenas eu :)

Mas os princípios de pesquisa e experimentação estão baseados nos mesmo princípios estéticos, visuais e sonoros, relacionais; procedimentos de trabalho; perfil do grupo. diferem com relação ao texto, escrito por mim a partir do trabalho corporal e vocal realizado. Neste, adotamos contos, e na forma de contos permanecem.

Estréia em março o espetáculo que nasceu do espaço




Nosso espetáculo estreará no dia 20 de março, às 18h, em Curitiba, como parte da programação do Fringe, no Festival de Curitiba, 2009. Será também apresentado no mesmo horário dias 21 e 22.

O espetáculo foi criado para o espaço de exposições do De Kroeg bar(arte) galeria (http://www.kroegbar.com.br/) . Esta pequena sala, no subsolo do bar, corresponde a uma espécie de porão, mas lembra em muito uma psicina. O chão, as paredes e o teto são de cimento, uma verdadeira caixa. Possui um único acesso por uma escada de ferro em espiral que desce próximo ao meio do espaço, junto a uma das paredes laterais, e três ou quatro janelinhas para a entrada de ar junto a parede oposta, mais ao canto e próximas ao teto. O tamanho é de uma garagem. Possui um efeito acústico de muita ressonância. É um esconderijo. Um útero. Uma caixa. Um espaço fora do mundo, abaixo no nível do solo. Um espaço impensável. Secreto. Meditativo. Íntimo.

Primeiro descobri o lugar. E encantado com sua peculiaridade, riqueza e provocação, busquei um texto que pudesse ser trabalhado ali, que desse oportunidade de encontro secreto. Encontrei dois contos associados: O Barba-Azul, de Charles Perrault (1628-1703), publicado pela primeira vez em 1698 e A Filha do Barba-Azul, do holandês Louis Couperus (1863-1923).

já tinha ouvido falar de Barba-Azul, mas desconhecia sua história. Sabia que se tratava de um assassino, mas tudo que tinha era uma referência vaga em meu imaginário. Conversando com amigos, percebi que a relação deles era a mesma: um conhecido desconhecido.

A história da filha era nova para mim. E ilária. O conto de Perrault termina dizendo "constatou-se que Barba-Azul não tinha herdeiros", e danadamente Couperus começa seu conto dizendo: "a maioria das pessoas acha que Barba-Azul morreu sem deixar herdeiros, mas se tivessem pesquisado os fatos mais a fundo, descobririam, como eu, que ele tinha uma filha de seu primeiro casamento, nos braços de quem veio a morrer".

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009



Era uma vez um homem que possuía...

...belas casas na cidade e no campo...